Por: Ana Laura Rangel
O contato dos assistidos com a música é uma das características mais marcantes da Comunidade da Figueira. Todas as atividades que são realizadas na instituição envolvem algum tipo de arte e na maioria delas estão os instrumentos musicais, a dança e até o canto. Em apresentações no salão da Figueira ou enquanto atividade recreativa antes do almoço, normalmente a maioria dos assistidos presentes nesses momentos se envolvem ou se movimentam quando há música.
Adan Costa, aluno de artes cênicas (UFOP), realiza atividades artísticas com os assistidos a partir do projeto de extensão Cia. da Gente. “Eu acho que certas letras e melodias atingem memórias específicas e sentimentos que geralmente não são tão comuns no cotidiano deles”, relata Adan. Para ele, é importante trabalhar com músicas e ritmos que estão acostumados a ouvir, principalmente hits antigos que possam acessar essa memória. “Essa lógica não é muito diferente com a gente, a diferença é que pra eles é mais livre e menos racional”, conta.
A música para deficientes também é um bom estimulante da interação e concentração. De acordo com a psicóloga da Figueira, Ivana Galvão, os assistidos que têm mais contato com a música apresentam mais calma e atenção em outros momentos e atividades. Ela dá o exemplo da flauta como um instrumento que os assistidos têm aprendido a tocar e que tem ajudado. Essa e outras atividades artísticas realizadas podem auxiliar também no autoconhecimento dos usuários.
Laura Quimbay, mestranda de filosofia pela UFOP, já realizou algumas oficinas na Figueira. As atividades ajudavam a entender o corpo com extensões através do olhar, de expressões corporais ou do toque. Segundo ela, as cadeiras de rodas podem ser um exemplo dessas extensões no corpo de alguém e a ideia de quais corpos são normais e anormais deve ser transformada. “A potência da dança e do encontro é romper com essas hierarquias e criar novas estéticas, éticas e políticas na relação”, conta Laura.
* Estagiária, aluna do 7º Período do curso de Jornalismo da UFOP, supervisionada pelo Jornalista Responsável Aurélio de Freitas (DRT 15.020).